Devaneios -
As fotografias de Demian Jacob nesta exposição “Devaneios” mostram-nos um mundo de sonhos, de contemplação, de viagens, quartos de hotel, cores, nuvens, a natureza presente, silêncio, paz, ordem, o branco ( a cor) , avião. Cidades por onde passou: Rio, São Paulo, Nova York, Los Angeles, Berlim, Santiago do Chile, Arraial do Cabo, Lisboa, Florença.
Um diário visual, em que muitas vezes o desfoque nos lembra a rapidez com que o tempo se esvai em nosso mundo célere. Um diário visual em que as imagens esbranquiçadas nos remetem à memória que se dilui, à realidade que se esfumaça, o ver através da cortina. Um trabalho que se inspira no momento, no mundo à volta , na beleza, na delicadeza.
Devaneios de “sonhar acordado”, como escreve o próprio artista: “catalogar o mundo ao redor”, “abordando coisas mais do que seres” e “com negativo 35 mm, intuitivamente, a maioria das vezes com uma câmera no automático”.
Uma fotografia do cotidiano, não documental, de fragmentos, poética, uma fotografia que não teme questionar as regras técnicas do aparato, o certo e o errado, e não se submete ao photoshop, uma fotografia que, ao invés de colocar a tecnologia no pedestal, faz desta um instrumento de criação e de liberdade para olhar em torno: o que se vê já é suficientemente belo e/ou estranho a ponto de impressionar um espírito sensível, o que dizer se sobrepõe à obediência à máquina.
É a quarta vez neste breve texto que me refiro a “mundo”. Não à toa, é diante dele, nele e com ele que o artista constrói as suas séries e conjuntos, na tradição de tantos fotógrafos e artistas que preferem ver tal como sentem, ao calor da vida. Eu próprio tenho um trabalho de 2004 que intitulei “Devaneios”, mas não o disse a Demian. As palavras nem sempre pertencem a este ou àquele, mas ao mundo. Identifiquei-me com a poesia de Demian. Digo de devaneios: “como passear por um mundo irreal”.
As suas imagens me fazem pensar na japonesa Rinko Kawauchi e suas delicadas paletas cromáticas ou nos brasileiros Orlando Maneschy com suas cores enevoadas e Carine Wallauer com a sua grande roda gigante, o céu ao fundo. Todos eles fotógrafos-artistas contemporâneos.
Trabalho pessoal e profissional do artista estão muito mais próximos do que se imagina. Basta ver um e outro. Ambos parte de um único artista. Trabalhou com fotógrafos de moda e de fine-art, estudou fotografia.
Artistas que preferem ver tal como sentem, sem amarras.
Joaquim Paiva, Rio de Janeiro, agosto de 2017.